O Sr. Extraterrestre
O Sr. Extraterrestre
Vou contar-vos uma história que
não me sai da memória,
foi p’ra mim uma vitória nesta era espacial.
Noutro dia estremeci quando abri a porta e vi
um grandessíssimo ovni pousado no meu quintal.
Fui logo bater à porta, veio uma figura torta,
eu disse: “Se não se importa poderia ir-se embora.
Tenho esta roupa a secar e ainda se vai sujar
se essa coisa aí ficar a deitar fumo pra fora.”
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado,
Quis falar mas disse “pi”, estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho e pôde contar-me, então,
que tinha sido multado por o terem apanhado sem carta de condução.
“O senhor desculpe lá, não quero passar por má,
pois você aonde está não me adianta nem me atrasa.
O pior é a vizinha que parece que adivinha
quando vir que eu estou sozinha com um estranho em minha casa.
Mas já que está aí de pé venha tomar um café,
faz-me pena, pois você nem tem cara de ser mau.
E eu queria saber também se na terra donde vem
não conhece lá ninguém que me arranje bacalhau.”
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse “pi”, estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho, disse para me pôr a pau,
pois na terra donde vinha nem há cheiro de sardinha
quanto mais de bacalhau.
“Conte agora novidades: É casado? Tem saudades?
Já tem filhos? De que idades? Só um? A quem é
que sai?
Tem retratos, com certeza.
Mostre lá, ai que riqueza!
Não é mesmo uma beleza?
Tão verdinho, sai ao pai.
Já está de chaves na mão? Vai voltar pr’o avião?
Espere, que já ali estão umas sandes p’ra viagem.
E vista também aquela camisinha de flanela
P’ra quando abrir a janela não se constipar co’a aragem.”
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado.
Quis falar mas disse “pi”, estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho e pôde-me então dizer
que quer que eu vá visitá-lo, que acha graça quando eu falo
ou ao menos pra escrever.
E o senhor extraterrestre viu-se um pouco atrapalhado,
quis falar mas disse “pi”, estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho só pra dizer: “Deus lhe pague.”
Eu dei-lhe um copo de vinho e lá foi no seu caminho
que era um pouco em ziguezague.
- Artist:Maja Milinković
- Album:Fado é sorte